segunda-feira, 5 de abril de 2010

PESQUISA MINERAL /PROCEDIMENTOS GEOLÓGICOS (4)

O ESTUDO DE AFLORAMENTOS

Esse procedimento, algumas vezes, pode ser executado por técnicos em mineração desde que com a supervisão de um ou mais geólogos.

1. ANOTAÇÕES DE CAMPO
Os dados de campo são registrados em uma caderneta de campo cuja capa deve ser dura tanto para proteção quanto para auxiliar na tomada de medidas de camadas com a bússola. As dimensões aproximadas são de 15x20cm. As folhas devem ser, de preferência, quadriculadas em tom cinza esmaecido facilitando o desenho esquemático de afloramentos e de seções geológicas. O roteiro de cada percurso e os valores de quilometragem deve ser anotado se o mesmo for realizado com jipe ou outro veículo de transporte da equipe de trabalho. A descrição dos dados é, normalmente, puntual: descreve-se afloramento por afloramento e estes são numerados sequencialmente na caderneta. Esta descrição é acompanhada de seções (perfis longitudinais) e colunas (empilhamento de camadas) geológicas esquemáticas correspondentes a cada percurso ou local.
A linguagem deve ser clara, direta, sem palavras desnecessárias. Frases curtas facilitam a compreensão do assunto. O técnico ou geólogo deve evitar usar termos rebuscados que dificultem o entendimento. O uso de abreviaturas nas descrições de afloramento é fato corriqueiro ao se buscar ganhar tempo e espaço na caderneta. Deve-se procurar manter, entretanto, uma padronização de abreviaturas para que a caderneta não se torne um ‘amontoado hieroglífico’ incompreensível para colegas que trabalham na equipe ou para quem vai transcrever as informações para banco de dados em computador. Na 1ª página da caderneta, além do nome do profissional competente, é necessário colocar o telefone de contato (se a caderneta for extraviada esta informação é importante), o nome da empresa, a campanha de campo ou o projeto, a data de início (e fim) do serviço, a lista de abreviaturas (se não seguirem um padrão), a declinação magnética usada na bússola de geólogo e outros dados de interesse geral.

2. ASPECTOS DO RELEVO, GEOMORFOLOGIA, VEGETAÇÃO E SOLOS
Cada tipo de rocha apresenta um padrão próprio de topografia, vegetação, drenagem e solo. Este padrão poderá se diversificar substancialmente com pequenas alterações de composição mineralógica da rocha. Mas, por outro lado, rochas bem diferentes poderão ter padrões semelhantes. Deve-se observar e anotar as variações características de relevo, de vegetação, os solos que são próprios de cada tipo de rocha ou de associação de rochas. O profissional encarregado para descrever o afloramento deve lembrar, entretanto, que o aplainamento com lateritas, cascalhos e areias residuais (capeamentos finos), pode mascarar completamente o padrão das rochas subjacentes.

OBS: É óbvio que estas anotações referentes a padrões não precisam ser repetidas em todos os afloramentos descritos.

3. BLOCOS ROLADOS X AFLORAMENTO IN SITU E BLOCOS FORA DE ARRANJO
Grandes blocos, principalmente, os das rochas mais resistentes ao intemperismo, podem rolar encosta abaixo e ficarem enterrados em solo transportado iludindo o geólogo quanto à rocha que ocorre neste ponto. Nesse caso o geólogo deve, assim, identificar uma continuidade maior do afloramento que garanta ser a rocha autóctone (do próprio local onde se encontra). De forma semelhante à anterior, podem ocorrer blocos em maior ou menor grau deslocados ou tombados. É evidente que as medidas de atitudes de acamamento, xistosidades, planos de fraturas,etc., destes blocos deslocados são completamente falseadas.

4. REPRESENTATIVIDADE DAS ROCHAS AFLORANTES
a) É obrigatório observar: se o tipo de rocha que aflora com mais freqüência corresponde a uma fácies mais resistente ao intemperismo e que, por isso, sobressai em todos os afloramentos enquanto que fácies associados que podem ser até mais comuns do que esses pouco ou não afloram e ficam "escondidos" sob o solo mais espesso. Portanto, se faz imperativo estudar as alterações (dos solos) características dos diversos tipos de rochas da área de estudo. Isto servirá também para inferir qual é a rocha que ocorre provavelmente nas regiões sem afloramento.

b) O geólogo pode iniciar o estudo de um afloramento com um reconhecimento do mesmo quebrando e reunindo amostras das diversas fácies (variações das rochas) ao longo da área aflorante. Somente depois desta prévia é que finalmente ele começa a descrição das rochas do local, evitando o estudo somente do primeiro fragmento quebrado.

5. TIPO DE ROCHA E DE INTEMPERISMO
Devem ser anotados para cada tipo de rocha o seu intemperismo (rocha alterada ou regolito) e o solo resultantes. Em muitas regiões carentes de afloramento de rocha (caso comum no Brasil com seus climas quentes e úmidos), tende-se de utilizar estrapolações deste tipo no mapeamento geológico.

6. MINERAIS ROLADOS E/OU ROCHAS ROLADAS
Certos minerais ou fácies rochosas ficam mais conspícuos (chamativos) quando rolados. Em geral, são minerais pesados e/ou mais resistentes e que se tornam guia para a localização, drenagem acima, do afloramento de onde vieram estes rolados. Minerais e rochas pesadas frequentemente apresentam interesse econômico e/ou geológico. Nas nossas condições médias de relevo e clima, a distância do rolamento de blocos, exceto os de quartzo ou quartzitos puros, com mais de 10 cm normalmente não ultrapassa 5km.

7. CONTATOS GEOLÓGICOS
Os contatos geológicos devem ser detalhados:

a) de acordo com a localização precisa do contato;

b)Com base nos cautelosos estudos e descrições feitos sobre as feições associadas ao contato identificado na relação entre as rochas ou as formações, desde que seja verificado: se existe metamorfismo de contato (minerais e rochas de contato térmico) quando uma das rochas é ígnea; se existem apófise ou veios em contato com rochas ígneas; se existem feições erosionais, ângulo de estratificação, possíveis paleosolos, etc., que indiquem discordância entre as duas rochas; se existem feições indicativas de contato falhado como brecha tectônica, cataclase ou milonitização (moagem) de rochas, muitos veios de quartzo, ou muitas fraturas, etc.

c) Ao tempo do mapeamento (no campo) em que é recomendável delinear com precisão o contato na foto aérea ou no mapa de serviço. Vale ressaltar que não poderá se admitir fazer esta tarefa no laboratório, devido a possível dificuldade em lembrar a posição correta do contato no campo.

8. DESCRIÇÃO DE FÁCIES
Trata-se da descrição das diversas fácies (aspectos mineralógicos, texturais e estruturais) de rochas do afloramento, desde a aparentemente fácie mais importante a menos importante mostrando as relações espaciais e, se possível, genéticas entre elas. São itens comuns na descrição: cor e aspecto da rocha fresca e alterada; textura, granulometria, homogeneidade, heterogeneidade, friabilidade, compacidade, dureza, etc.; estruturas como camadas, veios, xistosidade distinguindo estruturas primárias e estruturas secundárias (desenhos esquemáticos são muito importantes não esquecendo de mostrar uma escala no desenho); minerais identificados macroscopicamente (lupa).

9. MEDIDAS COM A BÚSSOLA
Consiste em realizar as diversas medidas com a bússola como na estratificação, xistosidade, clivagem, etc., e nas lineações, eixos de dobras e de microdobras, orientação de minerais, descrevendo-as cuidadosamente.

10. AMOSTRAGEM E IDENTIFICAÇÃO DE ROCHAS
Amostrar as fácies de rochas selecionadas utilizando critérios como:

a) Problemas na identificação macroscópica;
b) Fácies ainda não coletadas;
c) Alguma estrutura especial;
d) Locais muito importantes (contatos, zonas mineralizadas, etc.).

A amostra deve ter tamanho razoável (5x10x15 cm) e ser da rocha fresca. A etiquetagem deve ser feita cuidadosamente no campo logo após a seleção das amostras. Deve-se anotar na etiqueta a sigla (deve ser combinada com o resto da equipe do projeto; normalmente usam-se as iniciais do geólogo) seguida pelo número do afloramento descrito na caderneta e por uma letra que identifica à fácies rochosa amostrada. Se existirem mais amostras da mesma fácies, após a letra deve ser colocado um número que identifique a duplicata ou triplicata, etc. de amostragem.

Amostrando uma sucessão de camadas no afloramento é importante procurar seguir uma ordem: de baixo para cima ou vice-versa de fácies amostradas. É aconselhável empacotar as amostras com jornal quando retornar para a sede evitando, assim, perder a identificação das amostras.

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